— Mãe, abri meu CNPJ!

Era 15 de maio de 2014, fim da tarde, quando mandei esse whatsapp para minha mãe.

Havia 2 meses que estávamos morando em Belo Horizonte – numa cidade e estado totalmente novos para mim. Para quem não sabe, sou paulista de nascença, apesar de ser mineira de coração.

A felicidade de ter concluído o registro da empresa foi o arremate para todas as emoções conflitantes que aconteciam naquele momento:

  • A empolgação de começar algo novo;
  • O medo de  não dar certo;
  • A liberdade de poder trabalhar com propósito;
  • O desconforto de ficar sem um emprego;
  • A curiosidade de conhecer uma nova cultura;
  • A agonia de não conhecer nada: qualquer coisa simples, como uma ia ao supermercado, virava uma enorme aventura.

—- Abrir o CNPJ, fazer o cartão de visita, o logotipo da sua marca… nada disso importa se não houver vendas – dizia o guru da internet (sim, eles já existiam à época.) 

Hoje até compreendo sua visão, mas abrir o CNPJ para mim imprimiu o peso da seriedade do projeto. 

Agora sou uma empresa. Agora é tudo ou nada.

Poucos dias antes, eu tinha recebido uma proposta de emprego para ser gerente de projetos em uma empresa conceituada. Fiz as entrevistas e passei. 

Se por um lado, o conforto de ter um emprego e um bom salário era tentador, por outro, me sentia traindo a missão que eu tinha atribuído a mim mesma: de fazer chocolates saudáveis e inclusivos para as pessoas que, como eu, tinham descoberto restrição alimentar.

E agora? Volto para o mercado de Tecnologia, no qual eu já tenho experiência e bons salários ou arrisco o desafio?

Peguei o telefone e recusei a vaga.

Foi apenas uma das decisões difíceis que tomei ao longo destes 10 anos, mas a mais emblemática. 

No mesmo dia, sentei-me sozinha em frente ao computador com uma xícara de café, e procurei, em meio de toda a burocracia do nosso Estado, como abrir uma empresa de alimentos em Minas Gerais.

O começo de um sonho.

Incontáveis desafios e decisões cruciais vieram depois desse dia.

  • Teve o dia em que o André resolveu largar o seu emprego em TI e juntar-se a mim nesse barco, abrindo mão da renda segura do casal.
  • Teve o dia em que decidimos alugar o primeiro local (e o segundo, e o terceiro), sempre contando que conseguiríamos vender o suficiente para pagar esta conta.
  • Teve o dia em que decidimos investir metade de todo dinheiro que tínhamos guardado em um maquinário.
  • O dia em que a chuva de granizo detonou o telhado da fábrica e passamos a noite inteira limpado e arrumando as coisas.
  • O dia em que meu irmão decidiu mudar-se com a família toda para MG e trabalhar aqui com a gente.
  • O fatídico dia em que o país parou por conta da pandemia, e precisamos nos reinventar para garantir o sustento e informações para 13 famílias, engavetando todos nossos projetos e sonhos.
  • Quando o cacau aumentou assustadores 200% em poucos meses.
  • As ondas de calor frequentes, a greve dos caminhoneiros, os ajustes de impostos e legislações que temos que engolir.

Mas também muitas alegrias!

  • O dia que conquistamos nosso primeiro cliente
  • O dia que vendemos para a rede Mundo Verde
  • O dia que vendemos para o Supermercado Verdemar
  • Os dias que aparecemos no jornal 
  • O dia que enviamos nossa primeira remessa de chocolates para venda nos Estados Unidos
  • O dia que lançamos nossos cursos de chocolateria online.

Empreender no Brasil não é fácil.

A gente quer criar, inovar, mas as burocracias sugam nossa energia, tempo e dinheiro diariamente.

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Há 10 anos, li uma reportagem sobre o dono da Heineken e a criação de cultura do consumo de cervejas premium.

— O Brasileiro médio gosta de chocolate ao leite.

– O brasileiro médio gosta de sabor doce.

– O país é quente, o que vende aqui é sorvete e cerveja.

– Ninguém tem dinheiro pra comprar esses seus chocolates.

Desde 2014, o que fizemos foi criar uma cultura de chocolates puros e artesanais.

Como um dos pioneiros do bean-to-bar no Brasil, abrimos muitos caminhos, mas a gente ainda escuta essas frases todos os dias! 

Porém, a cade depoimento que recebemos de nossos clientes, a cada foto de crianças comendo seu primeiro ovo de Páscoa, nosso propósito é renovado.

Por isso, agradeço a todos os consumidores e lojistas parceiros da Java por ter nos permitido chegar até aqui. 

E reforço nosso compromisso de continuar produzindo chocolates saudáveis e gostosos, com ingredientes puros de alta qualidade.

Sem herança, sem blogueiros, sem investidores, e sem enganação. Só trabalho duro e coragem para seguir firme no propósito.

Que venham os próximos 10 anos!

 

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